Muitas pessoas sentem orgulho em dizer que são perfeccionistas. Elas acham que esta é uma extraordinária qualidade. Batem no peito e assumem abertamente que são e que fazem questão de ser assim. É como se elas trouxessem ao pescoço uma placa com os dizeres: “Siga-me e faça como eu: é o único jeito de tornar o mundo melhor”. Vivem como se fossem o suprassumo da humanidade, o protótipo do ser humano ideal.
Quando encontramos com estas pessoas, achamos que elas são mesmo tudo isso. Por um tempo chegamos a ficar em dúvida e até a admirar, senão mesmo invejar, seu alto nível de compromisso com as virtudes mais escolhidas da raça humana.
Acontece que o perfeccionismo é uma falácia. Simplesmente porque ele se baseia em pressupostos sem alicerces sustentáveis.
Primeiro, porque trata-se de uma mania. É uma coisa quase patológica. Praticamente uma síndrome. Achar que temos condições de fazer qualquer coisa sem falhas, que não erramos nunca, que não temos defeitos é o limiar da loucura absoluta. Não é possível viver assim a vida toda. E o que acaba acontecendo é que em algum momento a falha vai chegar, dando à luz uma vida de hipocrisia. Quem tem mania de perfeição não consegue conviver com suas próprias faltas. Para ele, isso é o fim. Ele não conseguirá conviver com a realidade, não terá estrutura para enfrentar a verdade. Então, acaba criando um mundo só seu, onde o que importa é a opinião das pessoas, é manter sua imagem perante os outros.
Segundo, porque o padrão ideal seguido por quem sofre deste mal é criado por ele mesmo. Este modelo é fundido no fundo do seu próprio quintal, no tacho das idiossincrasias, isto é, naquilo que diz respeito ao temperamento, valores e conceitos de cada um.
Agora, não confunda perfeccionismo com a busca pela excelência.
A diferença é sutil, mas existe. Muitos perfeccionistas tentam se justificar dizendo-se caçadores de excelência.
Excelência é fazer as coisas com o máximo de qualidade que nossos recursos permitem.
Perfeccionismo é determinar pelo nosso padrão pessoal qual é esse máximo e exigir que todos o alcancem.
Tentar fazer o melhor sempre, dar o máximo em cada coisa que fazemos, caprichar, esmerar-se é bem diferente de traçar um padrão pessoal de perfeição absoluta e gastar sua vida toda perseguindo esta utopia.
A excelência é uma virtude admirável. Ela atrai e influencia as pessoas ao redor. Quem trabalha com excelência não vai ficar às voltas com quem mata o serviço.
O perfeccionismo, por sua vez, é um defeito asqueroso. Ele isola e torna solitários seus adeptos. O destino do perfeccionista é uma perene frustração. E ninguém gosta de se espelhar em frustrados.
Quanto a mim e a você, que não queremos errar nem pela falta nem pelo excesso, nos cabe clamar a graça de Deus sobre nossas vidas para que vivamos da melhor forma possível, com sabedoria e discernimento, conscientes de nossas limitações e fraquezas, mas procurando dar o melhor sempre, em todas as circunstâncias.
E se um dia a gente se tornar referência para o que quer que seja, que seja unicamente para glorificar o Servo Perfeito que andou entre nós e que “deixou-nos exemplo para seguirmos os seus passos” (1Pe.1.22)
Trecho de um texto de Marcos Soares.